sexta-feira, 30 de maio de 2014

Precisa-se de rebeldes: somente indivíduos podem se inscrever

Precisa-se de rebeldes: somente indivíduos podem se inscrever

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Precisa-se de rebeldes: somente indivíduos podem se inscrever

Posted: 29 May 2014 06:53 PM PDT


Pergunta a Osho:


Amado Osho,
O que um cara bonito e iluminado como você está fazendo com um grupo heterogêneo como o nosso?
Na verdade, não quero realmente saber o que você está fazendo. Apenas, por favor, não o pare de fazer.


Toda multidão é uma multidão heterogênea, mas nenhum indivíduo o é. Cada indivíduo é uma consciência autêntica. No momento em que ele se toma parte da multidão, ele perde a sua consciência; então ele é dominado pelo coletivo, pela mente mecânica.

Você está me perguntando o que estou fazendo? Estou fazendo uma coisa simples - tirando indivíduos para fora das multidões, devolvendo-lhes a sua individualidade e dignidade.

Eu não quero multidão alguma no mundo. Não importa se eles se juntaram em nome de religiões, ou em nome de nacionalidades, ou em nome de raças. Como tal, a multidão é feia, e as multidões cometeram os maiores crimes no mundo, porque a multidão não tem consciência. Ela é uma inconsciência coletiva.

A consciência torna a pessoa um indivíduo - um pinheiro solitário dançando ao vento, um solitário e ensolarado pico de montanha em sua completa glória e beleza, um solitário leão e seu rugido tremendamente belo que ecoa por quilômetros nos vales.

A multidão é sempre de ovelhas, e todo o esforço do passado tem sido o de converter cada indivíduo em uma peça de engrenagem, em uma parte morta de uma multidão morta. Quanto mais inconsciente ele é, e quanto mais o seu comportamento é dominado pela coletividade, menos perigoso ele se toma. Na verdade, ele se toma quase inofensivo. Ele não pode destruir nem mesmo sua própria escravidão.

Pelo contrário, ele começa a glorificar sua própria escravidão - sua religião, sua nação, sua raça, sua cor. Essas são as suas escravidões, mas ele começa a glorificá-las. Como indivíduo ele não pertence a nenhuma multidão. Toda criança nasce como um indivíduo, mas raramente um homem morre como um indivíduo.

Meu trabalho é fazer com que você encontre a sua morte com a mesma inocência, com a mesma integridade, com a mesma individualidade que você tinha ao nascer. Entre o seu nascimento e a sua morte, a sua dança deveria permanecer um consciente, um solitário alcançar as estrelas... sozinho, incorruptível - um espírito rebelde. A menos que você tenha um espírito rebelde, você não tem espírito algum. Não existem outros tipos de espíritos.

E você pode ficar descansado que eu não irei parar! Essa é a minha única alegria - tomar o maior número possível de pessoas livres de seus cativeiros, de suas celas escuras, de suas algemas, de suas correntes, e trazê-las para a luz, de tal forma que elas também possam conhecer as belezas deste planeta, a beleza deste céu, as belezas desta existência. Além disto, não existe Deus e nem qualquer templo de Deus.

Em liberdade, você pode entrar no templo.

Em uma coletividade, em uma multidão, você simplesmente se apega aos cadáveres do passado. Um homem, vivendo de acordo com a multidão, parou de viver. Ele está simplesmente seguindo como um robô.

Talvez os robôs sejam também um pouco mais indivíduos do que os assim-chamados indivíduos na multidão... porque justamente agora, no Japão, existem cem mil robôs - homens mecânicos - trabalhando nas fábricas. De repente, nos últimos dois meses, um estranho fenômeno está acontecendo. O governo está preocupado, os cientistas estão preocupados, e eles não foram capazes de encontrar qualquer explicação. Até agora os robôs tinham trabalhado silenciosamente; ninguém jamais pensou que eles iriam, de repente, começar uma rebelião. Mas dez pessoas foram mortas nos últimos dois meses.

Um robô está trabalhando - e um robô trabalha de acordo com um computador, de acordo com um plano pré-programado; ele não pode agir, de forma alguma, diferentemente do programa com que foi alimentado. Mas por estranho que pareça, de repente esses dez robôs pararam de trabalhar, agarraram algum homem que estava por perto e simplesmente o mataram. A cifra de dez homens mortos é dada pelo governo - não pode ser verdade. Nenhum governo fala a verdade.

Minha própria experiência é a de que é sempre bom multiplicar todos os números dados pelo governo pelo menos por dez. Se eles estão dizendo que dez pessoas morreram, cem pessoas devem ter morrido, ou mais. Eles estão tentando acalmar as massas - "Não se preocupem, nós descobriremos o que saiu errado." Mas eles não têm ideia alguma.

Na verdade, o robô não é capaz de fazer qualquer ato que não esteja programado no computador - e esses não eram os programas. Os robôs mostraram algum sinal de liberdade, mostraram algum sinal de individualidade, alguma indicação de rebeldia.

Os computadores não podem responder a uma questão nova. Eles podem responder somente a questões para as quais informações já lhes foram dadas. Naturalmente - eles não têm inteligência, eles têm somente um sistema de memória, um sistema de arquivo que registra. E claro, eles são perfeitos em sua eficiência. Nenhum homem pode ser tão perfeito; de vez em quando você esquece.

E é absolutamente necessário, para que a vida continue, esquecer-se da maioria das coisas desnecessárias que estão acontecendo a cada dia, do contrário, seu sistema de memória ficará sobrecarregado. Mas o computador é um mecanismo. Você não o pode sobrecarregar demais, ele não tem vida.

Ouvi contar... um homem estava perguntando a um computador: "Você pode me dizer onde está meu pai?" Ele estava apenas brincando com o cientista que trabalhava naquele grande computador, e o computador disse: "Seu pai? Ele saiu para pescar há três horas." O homem riu e disse ao cientista: "Você está criando um computador estúpido. Meu pai morreu há três anos." E ele ficou chocado porque o computador deu uma gargalhada - para a qual nunca havia sido programado - e disse: "Não seja ingênuo. Não foi o seu pai que morreu há três anos, esse foi somente o esposo de sua mãe. Seu pai foi pescar há três horas; você pode ir para a praia e o encontrará." No momento, essa é apenas uma história, mas olhando os fatos reais que estão acontecendo no Japão, a história toma uma certa realidade.

Mas o homem na multidão tem sempre agido cegamente. Se você puxa o mesmo homem para fora da multidão e lhe pergunta: "O que você estava fazendo? Você pode fazer isso sozinho, por você mesmo?" Ele se sentirá embaraçado. E você ficará surpreso ao ouvir a sua resposta: "Por minha própria conta não posso fazer uma coisa tão estúpida, mas quando estou numa multidão, algo estranho acontece."

Por vinte anos vivi em uma cidade que era dividida proporcionalmente, meio a meio, entre hindus e muçulmanos. Eles eram igualmente poderosos, e quase todo ano aconteciam motins. Eu conhecia um professor na universidade onde eu ensinava. Eu nunca poderia ter sonhado que esse homem poderia atear fogo em um templo hindu; ele era um cavalheiro — gentil, bem-educado, de boa cultura. Durante um motim entre hindus e muçulmanos, eu estava observando da calçada. Os muçulmanos estavam queimando um templo hindu, os hindus estavam queimando uma mesquita muçulmana.

Eu vi esse professor envolvido na queima do templo hindu. Eu o puxei para fora e lhe perguntei:"Professor Farid, o que você está fazendo?"

Ele ficou muito envergonhado. Ele disse: "Sinto muito, eu me perdi na multidão. Porque todos os outros estavam fazendo isso, eu esqueci de minha própria responsabilidade. Pela primeira vez eu me senti tremendamente livre de responsabilidade. Ninguém poderia me acusar. Era uma multidão de muçulmanos, e eu era apenas parte dela."

Em uma outra ocasião, uma relojoaria muçulmana estava sendo saqueada. Ela tinha a mais preciosa coleção de relógios. Um velho sacerdote hindu... as pessoas que estavam roubando esses relógios e destruindo a loja — eles haviam assassinado o dono da loja - eram todos hindus.

Um velho sacerdote que eu conhecia estava de pé nas escadas, gritando com muita raiva para as pessoas: "O que vocês estão fazendo? Isso vai contra nossa religião, contra nossa moralidade, contra nossa cultura. Isso não está certo."

Eu estava vendo toda a cena de uma livraria no primeiro andar do prédio exatamente em frente à loja, do outro lado da rua. A maior surpresa ainda estava por vir. Quando as pessoas haviam levado todos os artigos de valor da loja, restou somente um velho relógio - muito grande, muito antigo. Vendo que as pessoas estavam indo embora, o velho colocou esse relógio sobre os seus ombros. Para ele era difícil carregá-lo, porque o relógio era pesado demais. Eu não podia acreditar em meus olhos! Ele estivera impedindo as pessoas, e esse era o último artigo da loja.

Eu tive que descer da livraria e parar o sacerdote. Eu perguntei-lhe: "Isso é estranho. O tempo todo você estava gritando, 'Isso vai contra a nossa moralidade! Isso vai contra a nossa religião, não façam isso!' E agora você está pegando o maior relógio da loja."

Ele replicou: "Eu gritei o bastante, mas ninguém ouviu. E então, finalmente veio-me a ideia de que eu estou simplesmente gritando e desperdiçando o meu tempo, e todos os outros estão pegando alguma coisa. Então, é melhor pegar este relógio antes que algum outro o pegue, porque ele era o único artigo deixado."

Eu perguntei: "Mas o que aconteceu com a religião, a moralidade, a cultura?"

Ele disse isto com uma cara envergonhada - mas disse: "Quando ninguém se preocupa com religião, cultura e moralidade, por que eu deveria ser a única vítima? Também sou parte da mesma multidão. Fiz o possível para convencê-los, mas se ninguém vai seguir a religião, a moralidade e o caminho correto, então não vou ser apenas um perdedor e parecer um estúpido parado aqui. Ninguém nem mesmo me escutou, ninguém me deu atenção." E ele levou o relógio.

Eu vi pelo menos uma dúzia de motins naquela cidade, e perguntei aos indivíduos que haviam participado de atos incendiários, de assassinatos, de estupros: "Você é capaz de fazer isso sozinho, por você mesmo?" E todos eles, sem exceção, disseram: "Por conta própria não o podemos fazer. Foi porque tantas pessoas estavam fazendo aquilo e não havia responsabilidade pessoal. Não tínhamos que responder por aquilo, a multidão era a responsável."

O homem perde tão facilmente sua pequena consciência no oceano coletivo da inconsciência. Essa é a causa de todas as guerras, de todos os motins, de todas as cruzadas, de todos os assassinatos.

Indivíduos cometeram muito poucos crimes comparados aos da multidão. E as razões dos indivíduos que cometeram crimes são totalmente diferentes - eles nasceram com uma mente criminosa, nasceram com uma química criminosa, necessitam de tratamento. Mas o homem que comete um crime porque ele é parte de uma multidão nada tem que deva ser tratado. Tudo o que é necessário é tirá-lo da multidão. Ele deveria ser limpo; limpo de todas as escravidões, limpo de todo o tipo de coletividade. Ele deveria se tomar um indivíduo novamente - assim como era quando veio ao mundo.

As multidões devem desaparecer do mundo.

Somente indivíduos deveriam permanecer.

Então, os indivíduos podem ter encontros, os indivíduos podem ter confraternizações, os indivíduos podem ter diálogos. No momento, sendo parte de uma multidão, eles não são livres, nem mesmo conscientes para terem um diálogo ou uma comunhão.

Meu trabalho é tirar os indivíduos para fora de qualquer multidão - cristã, muçulmana, hindu, judia... qualquer multidão política, qualquer multidão racial, qualquer multidão nacional - indiana, chinesa, japonesa. Eu sou contra a multidão e absolutamente pelo indivíduo, porque somente o indivíduo pode salvar o mundo. Somente o indivíduo pode ser o rebelde e o novo homem, a base para uma humanidade futura.

A professora está perguntando a três meninos em sua classe: "O que as suas mães estavam fazendo quando vocês saíram para a escola esta manhã?"

"Lavando roupa", disse Tom.

"Limpando o quarto", disse Dick.

"Aprontando-se para sair e caçar patos", disse Harry.

"O quê? Do que você está falando, Harry?", perguntou a professora.

"Bem, professora", disse Harry, "meu pai fugiu de casa, então ela atirou suas calcinhas no fogo e disse que estava voltando à ação."

As pessoas são imitadoras. Não estão agindo por conta própria; estão reagindo. O marido abandonou-a; isso se tomou uma reação nela, uma vingança - ela está voltando à ação. Essa não é uma ação vinda da consciência, não é uma indicação de individualidade.

É assim que a mente coletiva funciona - sempre de acordo com alguma outra pessoa. Contra ou a favor, não importa; conformista ou não-conformista, não importa. Mas ela está sempre dirigida, motivada, comandada por outros. Deixada por si mesma, ficará completamente perdida - o que fazer?

Estou ensinando o meu povo a ser meditador: a ser pessoas que possam desfrutar a solidão, que possam respeitar a si mesmas sem pertencerem a qualquer multidão, que não vendem as suas almas por recompensa, honraria, respeitabilidade e prestígio algum que a sociedade possa lhes dar. A sua honra, o seu prestígio e o seu poder estão dentro de seus próprios seres - na sua liberdade, no seu silêncio, no seu amor, na sua ação criativa - e não em sua reação. O que os outros fazem não é o que determina a sua vida.

A sua vida emerge do seu próprio interior. Ela tem as suas raízes na terra e os seus ramos no céu. Ela tem a sua aspiração própria de alcançar as estrelas.

Somente tal homem tem beleza e graça. Somente tal homem cumpriu o desejo da existência ao dar-lhe nascimento, ao dar-lhe uma oportunidade. Aqueles que permanecem parte da multidão perderam o trem.

Osho, "O Rebelde: O Verdadeiro Sal da Terra"

domingo, 11 de maio de 2014

O paradoxo da experiência religiosa

O paradoxo da experiência religiosa

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O paradoxo da experiência religiosa

Posted: 10 May 2014 06:48 AM PDT


Eu ouvi dizer..

Um grande Mestre Zen, Sozan, foi interrogado para explicar o ensinamento derradeiro de Buda. Ele respondeu: "Você não irá entendê-lo antes de tê-lo." Mas, então, qual é o ponto de compreendê-lo? Quando você o tem, você o tem; não há necessidade de compreendê-lo. Quando você não o tem, não pode compreendê-lo, e existe a necessidade de compreendê-lo. Este é o paradoxo: você pode entendê-lo somente quando tem.

Não há jeito de entendê-lo antes de tê-lo; somente a experiência o explicará para você. Nada mais pode fazer este trabalho, nenhum substituto é possível. Mas, então, não há necessidade — quando você tem, você tem. Quando está lá, está lá. Não há nem mesmo um desejo de compreendê-lo; aconteceu, você conheceu, tornou-se você. Exatamente como quando você come: quando você come, não se torna a comida. Você já observou? Do contrário, você teria se tornado uma banana. Você come uma banana; você não se torna uma banana, a banana transforma-se em você.

E exatamente o mesmo acontece quando você conheceu Deus: Deus se toma você. Quando você conheceu a verdade, a verdade torna-se você; digerida, ele corre no seu sangue, toma-se os seus ossos, torna-se o seu tutano, torna-se a sua presença. Não há necessidade de compreendê-la. De fato, não há ninguém para compreendê-la, ninguém é deixado para trás, você tornou-se ela. A sua compreensão tomou-se ela. A necessidade existe porque não compreendemos. Então, continuamos a procurar explicações, e nenhuma explicação pode ser dada.

Este é o paradoxo da experiência religiosa: aqueles que conhecem não precisam de nenhuma compreensão sobre ela. Eles estão tremendamente contentes conhecendo-a; é mais do que suficiente. Eles podem dançar, podem cantar, podem rir, mas não estão, de maneira alguma, procurando explicá-la. Eles podem vivê-la, podem ficar quietos sobre ela - podem sentar silenciosamente ou podem tomar-se loucamente extasiados com ela — mas não se incomodam em explicá-la.

Esta é a razão pela qual todas as grandes escrituras do mundo: os Upainishads, o Tao te Ching, os dizeres de Jesus, o Dhammapada de Buda, são simplesmente colocações, não explicações. Os Upanishads não provam Deus, eles simplesmente afirmam; eles dizem: É assim. Não é um argumento. Não estão propondo nenhuma hipótese, estão simplesmente declarando: É assim. É uma declaração. Não produzem nenhuma prova de porque eles declaram isto, porque declaram que existe. Eles simplesmente dizem: E assim — pegue ou deixe, mas é assim. E não há necessidade de nenhuma prova: eles são a prova.

Mas, para aqueles que ainda estão na noite escura da alma, tropeçando, tateando, alguma explicação é necessária. Estará muito, muito longe da verdade, será uma mentira — mas, ainda assim, é necessária.

Então, os místicos falam. Eles têm que falar, têm que derramar os seus seres, sabendo que isto pode ajudar uns poucos. Ajuda somente umas poucas pessoas. Ajuda somente aquelas pessoas que estão prontas para confiar — do contrário, nunca ajudam. Se você argumenta, está perdido — porque um místico não pode argumentar, não pode convencê-lo.

Nesse sentido, o místico é muito frágil. Nesse sentido, logicamente, ele é muito frágil: ele não pode argumentar e não pode provar. Você pode chegar perto dele, pode sentir o seu ser, pode olhar nos seus olhos, pode pegar na sua mão, pode apaixonar-se no seu amor, pode confiar neste homem louco, o místico pode ir com ele numa jornada desconhecida. Será uma corajosa aventura de confiança. Se você duvida, de repente, é cortado. Se você duvida, então, não há nenhuma possibilidade de uma ponte. A pessoa tem que confiar.

Osho, em "O Caminho do Amor: Discursos Sobre as Canções de Kabir"
Imagem por Luděk Wellart

segunda-feira, 5 de maio de 2014

As emoções e o corpo

As emoções e o corpo

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As emoções e o corpo

Posted: 04 May 2014 09:50 AM PDT


O seu corpo não é simplesmente físico. Muitas coisas penetraram nos seus músculos, na estrutura do seu corpo, por meio da repressão. Se reprimir a raiva, o veneno vai para o seu corpo. Vai para os músculos, vai para o sangue. Quando você reprime alguma coisa, isso deixa de ser apenas um fenômeno mental e passa a ser físico também — porque, na verdade, você não está dividido. Você não é corpo "e" mente; você é corpomente, psicossomático. Você é as duas coisas ao mesmo tempo. Portanto, qualquer coisa impingida ao corpo afeta a mente e qualquer coisa impingida à mente afeta o corpo. Corpo e mente são dois aspectos da mesma entidade.

Por exemplo, quando fica com raiva, o que acontece com o corpo? Sempre que você fica com raiva, alguns venenos são liberados no seu sangue. Sem esses venenos você não enlouqueceria a ponto de ficar encolerizado. Você tem certas glândulas no corpo e essas glândulas liberam determinadas substâncias químicas. Ora, isso é científico, não é só filosofia. O seu sangue fica envenenado. É por isso que, se tomado de raiva, você pode fazer coisas que normalmente não faria. Quando está com raiva, você consegue empurrar uma grande rocha — o que não conseguiria normalmente. Você mal consegue acreditar depois, ao ver que conseguiu empurrar a rocha, atirá-la longe ou erguê-la. Quando volta ao normal, você não consegue mais erguê-la, porque já não é mais o mesmo. Certas substâncias químicas estavam circulando na corrente sanguínea, você vivia um estado de emergência; toda a sua energia foi canalizada para a ação.

Mas, quando um animal fica enraivecido, ele simplesmente fica enraivecido. Ele não tem nenhuma moralidade quanto a isso, nada lhe foi ensinado a respeito; ele simplesmente fica enraivecido e a raiva é expressada. Quando você fica com raiva, a sua raiva é parecida com a de qualquer animal, mas então existe a sociedade, a moralidade, a etiqueta e milhares de outras coisas. Você abafa a raiva. Tem de mostrar que não está com raiva, tem de sorrir um sorriso falso. Você força um sorriso e abafa a raiva. O que acontece com o seu corpo? O corpo está pronto para brigar — ou brigar ou tugir do perigo, ou enfrentá-lo ou fugir dele. O corpo está pronto para fazer alguma coisa — a raiva é só a prontidão para fazer alguma coisa. O corpo ia ser violento, agressivo.

Se você pudesse ser violento e agressivo, então a energia seria extravasada. Mas você não pode — não é conveniente, por isso você a abafa. Então o que acontecerá com todos esses músculos que estavam prontos para ser agressivos? Eles ficarão atrofiados. A energia os está pressionando para serem agressivos e você está fazendo uma pressão contrária para que não sejam. Haverá um conflito. Nos seus músculos, no seu sangue, nos tecidos do seu corpo haverá um conflito. Eles estão prontos para expressar algo e você os pressiona para que não se expressem. Você está reprimindo os seus músculos. Então o corpo fica atrofiado. Isso acontece com todas as emoções, dia após dia, durante anos. Então o corpo fica todo atrofiado. Todos os nervos ficam atrofiados; deixam de fluir, não são mais caldais, não estão mais vivos. Eles ficam mortos, foram envenenados e ficaram todos emaranhados. Não são mais naturais.

Olhe qualquer animal e veja a graça do corpo dele. O que acontece ao corpo humano? Por que não é tão gracioso? Todo animal é gracioso — por que o corpo humano não é? O que lhe aconteceu? Você tem feito algo a ele. Você o tem destroçado, e a espontaneidade natural do seu fluxo já não existe mais. Ele ficou estagnado. Em todas as partes do seu corpo existe veneno. Em todos os músculos do seu corpo existe raiva reprimida, sexualidade reprimida, ganância reprimida, ciúme, ódio. Tudo é reprimido ali. Seu corpo está realmente doente.

Os psicólogos dizem que criamos uma armadura em torno do corpo e essa armadura é o problema. Se lhe permitem expressão total quando está com raiva, o que você faz? Quando está com raiva, você começa a ranger os dentes; você quer fazer alguma coisa com as unhas e com as mãos, porque é desse modo que a sua herança animal expressa a raiva. Você quer fazer alguma coisa com as mãos, destruir algo. Se não faz nada com os dedos, eles ficam atrofiados; perdem a graça, a beleza. Não serão mais membros vivos. E o veneno fica represado ali, por isso, quando você dá a mão a alguém, não acontece um toque de verdade, não existe vida, as suas mãos estão mortas.

Você consegue sentir isso. Toque a mão de uma criança pequena: há uma diferença sutil. Se a criança não quer dar a mão a você, ela não força; se retrai. Não dará a você uma mão morta, simplesmente tirará a mão. Mas, se ela quer lhe dar a mão, você sente como se a mão dela estivesse derretendo na sua. O calor, o fluxo — como se a criança toda estivesse vindo para a sua mão. Com o próprio toque ela expressa todo o amor que é possível expressar.

Mas a mesma criança, ao crescer, dará a mão como se ela fosse apenas um instrumento morto. Ela não acompanha esse movimento, ela não flui por meio dele. Isso acontece porque existem bloqueios. A raiva está bloqueada, e, de fato, antes que a mão possa ganhar vida novamente para expressar amor, ela terá de passar por uma verdadeira agonia, terá de passar por uma expressão profunda da raiva. Se a raiva não for extravasada, ela bloqueará a sua energia, não deixando o amor fluir.

Todo o seu corpo ficou bloqueado, não só as mãos. Por isso você pode abraçar alguém, pode aproximar alguém do seu peito, mas isso não significa que esteja aproximando essa pessoa do seu coração. São duas coisas diferentes. Você pode aproximar alguém do seu peito — esse é um fenômeno físico. Mas, se você tem uma armadura em torno do coração, tem um bloqueio emocional, então a pessoa continuará tão distante quanto antes; nenhuma intimidade é possível. Mas, se realmente trouxer a pessoa para perto de você, sem que exista nenhuma armadura, nenhum muro entre você e ela, então o seu coração se derreterá no coração dela. Haverá uma fusão, uma comunhão.

Quando o seu corpo voltar a ser receptivo e não houver nenhum bloqueio, nenhum veneno em torno dele, você estará sempre envolvido por um sentimento sutil de alegria. Seja o que for que esteja fazendo ou deixando de fazer, o seu corpo sempre estará envolto numa sutil vibração de alegria. Na realidade, a alegria só significa que o seu corpo é uma sinfonia, nada mais — que ele está num ritmo musical, só isso. Alegria não é prazer; o prazer sempre deriva de outra coisa. A alegria é simplesmente ser você mesmo — estar vivo, absolutamente vibrante, vital. O sentimento de que há uma música sutil em torno do seu corpo e dentro dele, uma sinfonia — isso é alegria. Você fica alegre quando o seu corpo está fluindo, quando ele é como o fluxo de um rio.

Osho, em "Saúde Emocional: Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa"
Imagem por katmary

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